um começo literário...
O silêncio me perturbava. Eu poderia me satisfazer com cochichos de outras pessoas, desde que aquele silêncio insuportável parasse. Era como se eu estivesse sozinho – o que seria melhor, ao menos estaria ouvindo uma musica do Editors bem alta no cdplayer daquela droga de carro. Meus lábios estavam secos e meus olhos implorando para fechar. Meu cabelo estava nojento por causa do gel que secou rapidamente por causa do sol e aquela droga de mala não parava de avançar sobre o meu colo. Lá estava eu, num Palio Adventure cinza equipado, lotado de malas. Minha mãe, dormindo no banco passageiro e meu novo padrasto dirigindo tranquilamente, como se ainda faltassem um milhão de quilômetros até nossa nova casa. Eu fiquei me perguntando a viagem toda, se ele é mesmo tão rico como diz minha mãe, porque não nos comprou passagem na porra da primeira classe de um avião, ou não comprou um jatinho ou nos arranjou um fretado? Seria mil vezes melhor que aquele papo de é nossa primeira viagem juntos, precisamos aproveitar todo o tempo que temos como uma família. O caso é que eu estava saturado desse negócio de família, porque minha mãe sempre aparecia com os piores caras, e depois de quatro casamentos era impossível acreditar em família no que dependesse da minha mãe. Tentei me lembrar mentalmente à exata letra de Angeles do Elliott Smith, pra tentar me acalmar, mas nada parecia o suficiente pra mim, agora era tudo novo outra vez: meu padrasto, minha casa, minha cidade e minha escola. Eu tinha certeza que jamais me adaptaria. Não havia como um cara como eu me adaptar a outro lugar. Eu não tinha mais os meus amigos comigo, eu não seria o mesmo. Eu queria poder abrir a porta daquele carro e correr pela estrada até cair sobre a grama seca num lugar qualquer e sentir o sol tocar meu rosto e me fazer soar.
Ouça: The Man Who Cant' Be Moved - The Script / I Don't Wanna Dance - Hey Monday
Apenas,
Alexandre Tavares.
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