terça-feira, julho 19

Péssimos Hábitos

Eu estou preso num sentimento, distorcendo palavras para eliminar dores. Arrumando um jeito impossível de tornar essa rotina sentimental e deprimente numa anomalia incomum e saudável. Buscando uma forma de tornar o sangue que corre nas minhas veias, puro e inocente. Gritando aos quatro cantos do mundo o que está entalado em minha garganta e preso entre dois pulmões. Sorrindo para o crepúsculo ao entardecer de mais um dia, quando deveria estar jogando copos na parede. Desejando alguém que não se lembra de mim. Apegando-me fácil e dificilmente esquecendo. Sendo aparentemente a única pessoa do mundo que ainda sabe o significado de um “eu te amo”. Sendo a única pessoa do mundo que ainda fala de sentimentos quando verdadeiros e deprimentes. Sendo a única pessoa do mundo cheia de péssimos hábitos.

* Bloodstream, de Stateless
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=EeUJkbQVPEc?hl=en&amp;loop=1"><img alt="Play" src="http://www.gtaero.net/ytmusic/play.png" style="border:0px;" /></a>

Por Alexandre Tavares.

sábado, julho 16

Intocável

O par de olhos mais verdes e puros que já observei. A pela mais levemente branca e fria que já toquei. O par de lábios mais aparentemente sensíveis e rosados que já beijei. Os fios de cabelo louros que mais caem perfeitamente aos ombros com a leveza do ar. As linhas de corpo mais bem desenhadas que se possa apreciar... Ela era dona de um silêncio gritante e de um olhar penetrante. Ela era o sorriso mais doce dentro do coração mais frio. Ela era a expressão mais indecifrável, o quente no frio, a única luz na escuridão. Sua perfeição era exageradamente grande, mas perturbadoramente intocável.


 
* No Rest, de Dry The River
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=3iUHfAChgBA?hl=en&amp;loop=1"><img alt="Play" src="http://www.gtaero.net/ytmusic/play.png" style="border:0px;" /></a>
 
Por Alexandre Tavares.

quarta-feira, julho 6

O beijo da meia-noite.




A multidão que me cercava me impossibilitava de encontrá-la, mas eu não desistiria. Não assim. Não aquela noite. A minha volta, pessoas de todos os estilos e cores caminhavam depressa e se esbarravam, mas para mim era uma seqüência de movimentos em câmera lenta, rápidos o bastante para que meus olhos não os captassem. Um ar quente dominava a estação de metrô e um farfalhar incomum a dominava mutuamente. Nunca imaginei como seria uma estação de metrô há exatos um minuto para a meia-noite. Nunca me imaginei em um há essa hora. Mas lá estava eu: um coração partido buscando consolo onde pudesse se aconchegar e refletir por todo o inverno... Por toda a vida. E de repente o farfalhar desapareceu, ou talvez tenha sido fruto da minha imaginação, ou só do meu coração acelerado, mas eu simplesmente estava ali, e agora eu a conseguia ver: os fios de cabelo voando para trás de si, os olhos verdes se movendo lentamente em minha direção e o par de lábios rosados mais lindos do mundo se esticando para sorrir. Nós nos olhamos. E então eu corri até lá, como num daqueles filmes dramáticos e entorpecentes, que no geral eu via quando estava deprimido, ou só quando queria imaginar como seria nosso primeiro encontro depois de tudo o que havíamos passado quando ainda estávamos distantes. E lá, a sua frente, ao tocar de sinos que indicava a meia-noite, estava eu, segurando em suas mãos frias e impedindo de uma vez por todas que nossas palavras estragassem tudo outra vez. Então eu simplesmente a beijei, a meia-noite.

* Three Whishes, de The Pierces
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=RyUkQWk29jY?hl=en&amp;loop=1"><img alt="Play" src="http://www.gtaero.net/ytmusic/play.png" style="border:0px;" /></a>


Por Alexandre Tavares.